“O Natimorto” nos palcos paulistanos:

Em 2015, comecei a ministrar o curso ‘Ritmo Cênico: corporalidades e musicalidades diversas’, no teatro Oficina. Curso este resultado de uma série de investigações envolvendo corpo, som, e movimento, desenvolvidos inicialmente durante a escrita da dissertação de mestrado – que a qualquer hora falo mais por aqui. Em síntese, a corporeidade e o ritmo são ideias centrais associados à experiência empírica por meio de jogos, técnicas, improvisações com foco de pesquisa na inter-relação das linguagens do teatro, da dança, da música, e da performance. 

Foi ainda como professor de Jefferson Reis, Rai Nóbrega, Mauriene Maná e Galdino Gal, fundadores da Cia do Piolho, que recebi o convite para dirigir o espetáculo “O Natimorto”, de Lourenço Mutarelli. Faríamos assim a segunda montagem desta obra no teatro – a primeira fora do diretor Mário Bortolotto, anos atrás.

Quando veio o convite já estavam há algum tempo adaptando a obra, trabalho de dramaturgismo exaustivo que tiveram – a partir da provocação da direção – também depois durante todo nosso processo de montagem para levantamento das cenas. E que processo! Longo: quatro anos e seguimos ainda ensaiando e atualizando nossa montagem. No início seria apenas uma supervisão cênica, mas, aos poucos o processo foi se complexificando até que eu assumi a direção geral, concepção e música do projeto.

Foi um belo encontro. Os ‘piolhos’ em formação se identificavam muito com a linguagem que estávamos estudando e com os elementos pesquisados no curso; e identificaram que estes elementos estavam totalmente conectados com o foco de trabalho e vontades que eles já estavam buscando.

Para mim este convite foi uma surpresa intensa e uma excelente oportunidade para colocar em prática pensamentos que estavam ‘coçando’ a cuca, ou melhor, o corpo, e que eu vinha desenvolvendo nas aulas e em alguns trabalhos, como “Manhãs“, apresentado na Funarte. Então, montar “O Natimorto” ampliou mais ainda a envergadura de possibilidades que os conceitos abordados no curso tem para prática da criação cênica. 

Apresentar este espetáculo nos dias de hoje, principalmente no momento político que estamos vivendo, é fundamental. Ele permite reflexões profundas sobre temas e questões pertinentes à nossa sociedade e cultura. 

“E ninguém mais me internará como se o que eu sofro fosse loucura, é de humanidade que sofro”