O teatro perdeu Ilo Krugli. Esse texto é uma homenagem a ele e ao grupo Ventoforte.

Se não me engano, em meados de 2008 fui parar no Teatro Ventoforte para um ensaio pontual que estava a fazer ali naquele espaço que mais parecia um sítio perdido no meio do Itaim Bibi/SP que qualquer teatro que eu pudesse pensar. E este ensaio, motivo que me levara para lá, não tinha propriamente nenhuma ligação com o grupo de teatro do artista plástico, diretor, poeta, ator e mestre Ilo Krugli, que era a companhia do Teatro Ventoforte. 

No entanto, acabei conhecendo Dinho Lima Flor, ator de longa data da companhia, que ficou entusiasmado com minha presença. Logo que descobriu que além de ator, eu também cantava e tinha habilidades com instrumentos musicais, rapidamente me apresentou ao Ilo, que me disse: “Ah sim, que bom que toca flauta transversal e que também toca viola caipira e violão…estamos precisando de um ‘cachorro’ com estas qualidades”. E, mal eu podia imaginar naquele momento que eu seria sim: um Cachorro Policial em o ‘Mistério do Fundo do Pote’, minha estréia no grupo teatro Ventoforte!

Depois, na sequência, para minha alegria, fui convidado pelo Ilo para fazer ‘Leonardo’, em Bodas de Sangue, de Garcia Lorca, substituindo Marcello Airoldi, ator excepcional e que ficou por muitos anos no Ventoforte. Tive ai um momento de bastante tensão para que eu não decepcionasse Ilo e que pudesse fazer uma atuação à altura do artista que estaria substituindo, além da responsabilidade de contracenar com Lilian de Lima, atriz de enorme envergadura. Neste pacote também recebi a missão de substituir este mesmo ator em ’Se o Mundo Fosse Bom o Dono Morava Nele’, escrito por Ilo a partir de obra de Ariano Suassuna. Foi demais fazer este espetáculo!

A partir daí participei de todos os espetáculos que entravam no cronograma da companhia. Foram quase 5 anos de muito Ventoforte. E fui Fazendeiro-vilão, Corpo de centopéia, Macaco, Cavalo-cavaleiro, Capitão de Nau, Deus, Mendigo, Cego, instrumentista, flautista, violeiro ator-brincante, cantor-cantante, Rei-Mago, Aranha, Roda-moinho, Catavento, Ferreiro, Professor… e mais, muito mais! Porque a imaginação não deve ter limites, e a do Ilo era infinita como deve ser – e que só os grandes mestres poetas têm! 

Com Ilo Krugli aprendi muito. Aprendi que se pode e deve brincar sempre em cena, imaginar, compartilhar os afetos com a plateia, dançar, cantar para e com a platéia, imaginar muito, divertir-se, não sofrer com ‘erros’, ‘falhas’, aproveitar tudo o que vêm da platéia, improvisar, se perder e se achar em cena, ser menos metódico e ‘cricri’ e tantos outros aprendizados que estou levando a vida a aprender!!!

Abaixo, alguns momentos com Ilo Krugli:

Adhê, eu, Ilo e Lizete Negreiros
Estreia do espetáculo “As 4 Chaves”
“A Centopeia e o Cavaleiro”: eu, Ilo Krugli, Rodrigo Mercadante e Uirá Iracema
“Bodas” com Karen Menatti