Para os filósofos Gilles Deleuze (1925-1995) e Félix Guattari (1930-1992) a arte não espera o homem para começar. Para eles, a idéia de arte está diretamente atrelada ao ritmo. Ao ritmo das coisas. E tudo tem ritmo. Até o que consideramos como não vivo. Assim, todo e qualquer corpo realiza troca com o seu meio. Ao seu ritmo, mas dentro do ritmo do cosmo. Como um corpo só. Uno.

O que os pensadores nos apresentam é a possibilidade de perceber que nas relações, sejam elas moleculares, atômicas, humanas (sociais, políticas, etc.), cósmicas, tudo é gerado por algum tipo de troca. Essa troca produz vibração, produz energia. Produz ritmo. A vibração do corpo humano ocasionada pela troca de oxigênio produz calor. Calor que nos mantém vivos, no pulsar do coração, no pulsar da vida. Toda a natureza está repleta de ritmo. É o ritmo que cria os desenhos e as cores do universo; as oscilações das marés e dos ventos; dos sóis e das luas. É o ritmo que cria os temperamentos; as tormentas e as colheitas. Ritmo são inspiração e expiração do cosmo; do contínuo tempo-espaço em que atuamos com nossas ações. Quando se está em sintonia com a vibração do universo tudo acontece. A seu ritmo. A seu tempo. E somos um, no ritmo do ventre do universo, que pulsa, que dança. E dançamos a coreografia do Universo.

 Ora intempestiva, ora moderada. Às vezes simples, às vezes complicada. Mas, sempre dinâmica. A obra de Sara Nach é assim: cheia de movimento, profunda e comovente. Por vezes simples. Em outras, suntuosas. Outras tantas, simplesmente linhas. Traçadas por linhas que se fazem contínuas no espaço e que encantam. Um olhar atento às suas esculturas nos evoca lembranças, histórias, sentimentos, emoções. E pedem atenção: o olhar e a escuta. Que seja um exercício de contemplação. Escutar e contemplar o ritmo do cosmo para ver com outros olhos. Ver e sentir o pulsar do universo, e assim, exercitar o estado natural de ser, em eterno movimento.

Suas esculturas nos remetem ao pensamento de Deleuze e de Guattari quando estes atrelam a arte ao ritmo do universo, transformando o artista em um artesão que, com sua técnica, seu olhar, seu sentido se conecta ao universo e que, com sua obra, nos conecta, conecta seu público, ao movimento cósmico. Ser uno com o cosmo é ser um artesão cósmico. E Sara Nach é uma artesã cósmica. Cabe a nós, como faz a artista, ampliar o nosso olhar, ampliar a nossa escuta; transmutar nossos sentidos e recriar nossa conexão com o infinito; às micro percepções do ar, do mar, da luz, da terra, do fogo para fundir a percepção com o imperceptível. Sejamos artesãos cósmicos e fundemos… fundemos… fundemos.

Consulta bibliográfica: Deleuze, Gilles; Félix Guattari. Mil Platôs 4. p. 129. Ed. 34, 1997: SP. Nash, Ricardo. Música e(m) Cena: processo de criação em mídias diversas. Mestrado PUC/SP-2006. Orientação: Sílvio Ferraz.

Ricardo Nash é ator, músico, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP, bacharel em Comunicação das Artes do Corpo, na área de teatro pela PUC/SP.